terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Allons faire du ski?

Lundi, 10/01/10
12:08
Esse fim de semana foi vacances para todo mundo, isso significa que não teve trabalho, mas também não teve refeição organizada, cada um ia na cozinha e preparava a sua comida. No sábado, acordamos 11:30 e fomos passear: Chica, Tomaz e eu. Andamos muito, fomos até um lago lindo! Estava cheio de folhas secas ao redor e havia uma ribanceira enorme entre a vegetação que estávamos e a margem do lago. Mas a paisagem era de arrepiar! Muito linda! Um cachorro nos seguiu pelo caminho todo. Estava com uma coleira escrito Frisbee, parecia um lobo. Lindo... e gostamos muito dele, ele tinha personalidade e respeito. Não sei se isso fica muito claro se tratando de um cachorro, mas diria que tive uma empatia forte por ele, mesmo sem tocá-lo muito. Quando voltamos, fizemos almoço e fomos ao quarto da Mayra. Falei com minha mãe pelo skype, é a segunda vez que falo com ela desde que cheguei aqui. Falei com o vô e com a vó também. Depois Mayra, Tomaz e Chica me ensinaram algumas notas no violão. À noite, P. nos procurou para combinarmos o passeio de domingo. Vimos na meteorologia que iria chover a tarde, mas queríamos esquiar de todo jeito! L. me emprestou a roupa, R. me emprestou o ski e F. me emprestou as luvas e os óculos. Os outros brasileiros, conseguiram os apetrechos com outras pessoas. Fomos também na Braderie, que é uma sala cheia de roupas usadas que podemos pegar o que estamos precisando. Peguei um casaco rosa bem quente, ideal para o meu tamanho e para esse frio. No domingo acordamos às 6:00, tomamos café, enchemos o carro e fomos: P., Chica, Tomaz e eu. O caminho era muito bonito, mas estava bem escuro às 7 da manhã, então aproveitamos pouco. A parte do caminho que pega a montanha é cheia de curvas, cheia mesmo! Fiquei enjoada, quase vomitei. Tivemos que parar o carro e esperar um pouco. Passei para o banco da frente e isso ajudou. Fomos à estação de ski que fica à uma hora daqui. Alugamos o tênis especial por 9,50 euros. O forfait foi 14 euros para o dia todo. Nos arrumamos, o Tomaz não ia esquiar, ele faria snowboard. E ele fez muito bem! São 4 tipos de cores relativas ao nível de dificuldade das pistas: verde, azul, vermelha e preta. A estação que fomos é bem pequena e só vai até a vermelha. Eu só fiquei na verde, e já achei super difícil. Caía o tempo inteiro no início, e fiquei toda roxa depois. O P. e a Chica me ajudaram muito, foram uns amores! Sem eles não teria conseguido nada... Primeiro aprendi a andar (ski reto) e a parar (ski em V). Depois aprendi a fazer curvas, nessa parte preciso praticar mais porque achei muito difícil. Eu e Chica almoçamos no carro, levamos comida da Arche. Eu fui na pista maior da cor verde duas vezes e saí rolando as duas vezes. P., principalmente, me ajudou muito nas quedas. Ele disse que com ele eu caía o tempo todo, só pra ele ficar me levantando. Mas a verdade é que com a Chica eu caía menos porque ela vai mais devagar, e eu prefiro assim também. Fomos embora ensopados, porque no fim esquiamos na chuva. O Tomaz custou a sair da estação, ficou empolgadíssimo com o snowboard. Mas é realmente muito gostoso e diferente esquiar! A gente tem que vencer o medo o tempo todo. À noite jantamos juntos, fizemos um mexidão. Ideia minha, Chica e Tomaz disseram que isso é coisa de mineiro. Eles sao paulistas. Eles saem perdendo... rsrs

Momento musical


Sábado 8/01/11
11:09
Ontem, na priére du matin, entrou uma mulher no meio e chamou a J. (uma senhora de mais de 80 anos, que faz os sirops pra quem está doente). Parece que o namorado da neta dela morreu num acidente de carro essa manhã. Assim que acabou nossa prière, algumas pessoas começaram a arrumar a sala para uma cerimônia especial de morte. Acabou que na confusão, eu iria ajudar B., mas ela saiu correndo e não fiz trabalho nenhum essa manhã. Procurei o T. e perguntei o que eu poderia fazer, ele disse para eu ir na aula de canto às 11:00. Foi muito gostoso! As mulheres cantam melhor que os homens. Aprendi uma música linda: La belle si tu voulais.
La bel si tu voulais
La bel si tu voulais
Nous dormirions ensemble lonla
Nous dormirions ensemble

Dans un grand lit carré
Dans un grand lit carré
Couvert de taies blanches lonla
Couvert de taies blanches

Au quatre coins du lit (bis)
Um bouquet de pervenches lonla
Um bouquet de pervenches

Dans le mitan du lit (bis)
La rivière est profonde lonla
La rivière est profonde

Tous les chevaux du roi (bis)
Y viennent boire ensemble lonla
Y viennent boire ensemble

Et là nous dormirions (bis)
Jusqu’à la fin du monde lonla
Jusqu’à la fin du monde
Depois do almoço ajudei O. a preparar a Salle Blanche para a Retraite que será na segunda, terça e quarta da semana que vem. Gosto muito dele, ele contou que antes de vir pra Arche trabalhava numa padaria em Paris, e antes trabalhava na cozinha de um navio. Ele disse que, com esse trabalho, ele viajou o mundo todo: já foi no Brasil, no Japão, etc... Ele colocou umas músicas clássicas que gosta muito de ouvir. Era Gustav Mahler (ele disse que a música que mais gostava era Ruhevoll, que Mahler tinha feito pensando em quando a alma sai do corpo e vai pro paraíso) e Armin Jordan Dukas. Após esse trabalho, fui procurar B. para ajudá-la. “Limpei” dois toilletes e uma duche. Acho que eu mais sujei que limpei. No vaso sanitário, passei um pano úmido, no chão, também passei um pano úmido e juntei o lixo. Como terminei o trabalho às 16:00 e isso está previsto para às 18:00, fui até a village comprar selos e biscoitos. No lugar onde eu comprei selos, o vendedor e um cliente que estava bebendo numa mesa começaram a conversar comigo. Eles perguntaram de onde eu era e disseram que eu não parecia brasileira, mas portuguesa, que meu rosto era bem português. Acho que eles não sabiam que o Brasil foi colonizado por Portugal... O cara que estava sentado falou que os habitantes comuns do Brasil são os índios. Que absurdo!!!! A gente deve ter bastante cuidado com o que fala! Eu disse a ele que o habitante comum do Brasil é o mestiço ou misturado (não sei bem até onde vai o sentido da palavra melangé). Disse que tinha branco, negro e índio, mas tudo misturado. Depois das compras, fiquei andando pela vila sem destino certo, passava por todos os lugares que achava interessante, não tinha quase ninguém nas ruas e nem estava tão frio assim. Chegando perto da Arche subi uma colina pra poder ver as montanhas cobertas de neve ao longe, uma vista de tirar o fôlego. Acho que já eram montanhas do começo dos Alpes, deu até pra fazer uma reflexão no momento. À noite, depois da prière du soir (eu e Chica chegamos na hora dessa vez) e do jantar, fizemos um encontro de improvisação musical com vários jovens da Arche. Cada um pegava o instrumento que quisesse e fazia o som que quisesse. Foi muito gostoso, completamente relaxante pra mim! A C. propôs que cantássemos Frère Jacques, já que todos sabem a letra. Depois de cantá-la eu mostrei a versão em português para essa música: “Meu lanchinho, meu lanchinho, vou comer, vou comer, pra ficar fortinho, pra ficar fortinho e crescer, e crescer.”. Eles quiseram cantar também, eu devia ter filmado porque ficou muito fofo! Também cantamos umas músicas africanas que ninguém conhecia a letra, sugeridas pela Chica e depois uma sugerida pelo casal mais simpático e expressivo que foi embora hoje. Fomos pra biblioteca mais tarde e jogamos um jogo ótimo para treinar francês: Meurtres. Todos têm que contar uma história usando 3 palavras específicas, enquanto o inspetor faz perguntas e tenta descobrir quem é o assassino entre os suspeitos. Quero procurar pra comprar depois! Fomos dormir às 1:30.

Os três reis magos


Quinta-feira 6/01/11
22:25
O R. respondeu minha mensagem indecifrável pra um francês. Eu tinha escrito “Tu as perdu la danse cette semaine.” A Lívia mandou uma mensagem depois dizendo “Moi aussi”. E ele escreveu depois: “J’ai rien compris”. Então, eu expliquei que eu escrevi uma mensagem com um sentido completamente em português e repeti o que eu queria dizer. Espero que dessa vez ele compreenda! De manhã lixei e envernizei umas tábuas de madeira junto com a Chica. Hoje é dia dos três reis magos e o pessoal daqui tem o costume de comemorar essa data. Eu não sabia, mas é nesse dia que tiramos os enfeites de Natal. Depois do almoço teve como sobremesa uma torta de nozes e havia várias sementes no meio da torta, quem achasse uma semente no seu pedaço, seria rei e deveria escolher uma rainha, ou vice-versa. Havia coroas e tudo, feitas pelas crianças. O V. até organizou um desfile da realeza pela Salle à manger. A Chica achou uma semente e virou rainha também! Depois do almoço terminamos a tarefa de antes, limpamos os vidros da Sala Gandhi e ajudei a S. (a argentina) na cozinha. Conversamos muito, gosto bastante dela! O. chegou depois, declamou umas poesias de Baudelaire. À noite teve uma prière especial, da épiphanie. A prière geralmente começa às 18:30, mas foi avisado no almoço que ela começaria hoje às 18:15. Eu e Chica, não entendemos essa parte e chegamos 18:35, no meio da concentração. Tomaz contou pra gente depois que eles falaram assim: “vamos fazer um momento de silêncio”, aí nós entramos fazendo um barulhão. Que vergonha! O pior é que para as refeições nós, brasileiros, somos os primeiros a chegar. Trop compliqué. À noite, Chica, eu, Mayra e Tomaz ficamos conversando e me deu uma saudade grande da Lívia! De manhã, o Tomaz me disse que estava com dor de garganta, lembrei que já vi o N. tomando um chá que era bom pra tudo e perguntei a ele onde poderia encontrar esse chá, expliquei que Tomaz estava com dor de garganta e ele fez um pra mim: é mel, sálvia (sauge), limão, verveine e água. Depois tomamos, nós três, bem quente. Todos nos sentimos melhor depois do chá.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Loup garou


Imagem da janela do meu quarto
Quinta-feira 6/01/11
12:08
O tempo passa rápido demais!!! Não acredito que hoje já é quinta-feira. Vou contar sobre ontem, isso está se tornando comum (falar sobre o ONTEM). À noite é difícil escrever pois é o momento em que me divirto com o pessoal ou que posso usar a internet da biblioteca. Eu escrevo no meu netbook e passo pro blog no computador da biblioteca. Eu descobri que tem umas pessoas que têm internet no quarto, mas eu nem faço questão de ter também, porque assim fico menos no computador. Meus trabalhos de ontem foram: passar aspirador e pano molhado na Sala Gandhi e no corredor do 3º andar junto com a Chica. Depois, fui conversar com a C., ela me perguntou se eu estou gostando e até quando eu vou ficar, disse que não sei ao certo se é dia 15 ou 17 de janeiro. Queria passar o fim de semana do dia 15/01 em Lyon, mas sem muita grana será difícil! O R. me disse que o Q. mora em Lyon e eu posso ficar na casa dele, mas não tenho intimidade o suficiente pra pedir isso ao Q.. A tarde, eu ajudei o O. na cozinha. Adorei esse trabalho, porque fiquei num lugar quentinho e só trabalhei de 15 às 17 horas. Ajudei a preparar o repas da noite. Vi que as folhas são colocadas na sopa, na torta ou em outros pratos sem serem lavadas antes. Então elas vão todas sujas de terra! Foi difícil comer a torta de poireau (acho que é alho poró), ficava sentindo a terra... De qualquer forma, talvez seja melhor terra do que agrotóxico. Recebi um e-mail da FUMP dizendo que ganharei uma ajuda financeira para o meu intercâmbio! ÊEEEEE!!!!!! Isso vai ajudar muito, porque tudo na França é muito caro! Ainda bem que estou na Arche: como bem (até demais!) e durmo muito bem também. À noite, vários jovens da comunidade foram jogar vários jogos na biblioteca. O primeiro jogo que eles fizeram eu só olhei, depois comecei a participar. Foi muito legal, adorei o jogo de identificar as figuras iguais no menor tempo possível. Por último, jogamos Loup garou, é muito bom! Já tinha tentado brincar disso uma vez nos Estados Unidos (chamava-se Máfia), mas não entendi; também já tentei jogar no Brasil, mas não achei graça, porque eram poucas pessoas jogando. Ontem foi ótimo! Eles jogam com outros personagens: 4 loup garou, 3 villageois, 1 sorcière, 1 petite fille, 1 cupidon (que escolhe 2 amoureux). Jogamos de 20:30 até às 23:30.

Eu sofrendo com o francês e Chica




Quarta-feira 5/01/11
9:36
Não escrevi ontem, porque dediquei meu tempo para passar o que já escrevi para o blog. Mas as novidades são: primeiro, chegou mais uma brasileira, Franzisca, mas a chamamos de Chica. Ela tem 18 anos, sua mãe é suíça e seu pai brasileiro, eles se conheceram na Arche. Ela trouxe violão e fala alemão, francês, português e inglês. Seu pai é presidente da Arche no Brasil, parece que eles fundaram esse grupo no ano passado e já fizeram dois encontros. Muito legal essa ideia, porque a Arche é maravilhosa e deve ser expandida. Ela está dividindo o quarto comigo. É bom ter mais alguém nesse quarto tão grande. Meus trabalhos de ontem foram: de manhã, varrer e lavar (eles falam lavar, mas é passar um pano molhado) o corredor do andar 0 com o Tomaz; à tarde, limpei as portas comunitárias junto com M. um alemão que fala super bem francês. Quando vejo um alemão, me lembro logo da segunda guerra mundial, maior bobagem fazer essa associação o tempo todo, mas é porque eu gostei muito de estudar isso na História. Acabo tendo uma impressão estranha dos alemães, mas o M. é super simpático! Ele trabalha com serviços sociais na Itália, ajuda na integração de pessoas com necessidades especiais na sociedade. É super simpático e tranquilo. Ontem à noite, tivemos dança também: a B., que mora na vila e mais um homem que esqueci o nome, nos ensinaram muitos passinhos. Foi muuuuuito bom. O P., que é um francês que fala português, me ensinou umas palavras. É porque durante a dança, a B. disse que um passo lá era em homenagem à biche (veado) que aparece na Bíblia. Ele foi me explicar o que era biche depois e disse que tapette e pédale são palavras usadas para viado. À noite entrei no facebook e o R. tinha me adicionado, então mandei uma mensagem para ele assim: “Tu as perdu la danse cette semaine. Je suis desolée... rsrs”. Hoje de manhã perguntei pro B. se ele entende a expressão “tu as perdu la danse” e ele disse que não muito bem, é melhor “tu as ratté la danse”. E depois fiquei pensando, acho que o R. não deve ter entendido o “rsrs” também. Concluindo, foi um fracasso minha mensagem! hahaha

sábado, 8 de janeiro de 2011

Vida louca


Segunda-feira 3/01/11
22:41
Voltamos ao trabalho hoje. O Arche está vazio porque acabaram as férias de fim de ano. As pessoas que fazem a Feve (programa de aprendizado comunitário) voltaram, a maioria é de jovens entre 25 e 35 anos. De manhã ajudei nos épluches, depois fui com Tomaz e mais dois franceses limpar a Salle Blanche e o meu novo quarto. Ele se chama Myosotis e é lindo! Tem 3 camas, divididas por andares de madeira, muito legal! É como se fosse uma beliche e ao mesmo tempo 3 andares diferentes. Escolhi o último, porque tem uma área muito gostosa, como se fosse um quarto alternativo. A decoração do quarto é linda! Vou tentar tirar foto para vocês terem uma ideia do que eu falo. As refeições estão cada vez mais vazias, é muito triste isso. Mas mesmo assim, continuam gostosas. Hoje no almoço teve verduras, arroz, feijão (é meio avermelhado, muito gostoso), batata e brócolis com molho branco, queijos maravilhosos e com um gosto muito forte. Os franceses comem queijo como se fosse legume, ou seja, não comem de jeito nenhum com café ou leite, e é quase sempre oferecido no almoço, antes da sobremesa. A Lívia foi embora! Tristeza! Ela foi uma presença muito boa aqui, e sem ela minha semana não seria tão agradável e produtiva. Quero visitá-la em Rennes e espero, sinceramente, não perder contato com ela nunca, pois é uma pessoa muito especial! Ela me deixou um cartão lindo, que o Tomaz me entregou à noite. À tarde, eu fiz o ménage do meu quarto antigo. Uns três franceses chegaram e me perguntaram se eu tinha visto uma vassoura, eu disse que sim, que estava no quarto de ménage. A mulher disse que não estava e me perguntou uma outra coisa que eu não entendi, mas fui pegar a vassoura para mostrar para eles que eu tinha visto sim. Na hora, dois deles riram como se eu não tivesse entendido o que a francesa falou e tivesse ido embora. Mas não é verdade, fui pegar a vassoura para eles verem. Foi muito ruim essa sensação de rirem de você como se você fosse uma idiota que não entende o que as pessoas dizem. Acho que isso eu preciso trabalhar muito comigo ainda e aceitar que estou em processo de aprendizagem e é normal acontecer coisas desse tipo, eu que tenho que saber lidar bem com elas. Quando eu mostrei a vassoura que tinha visto, a francesa (que esqueci o nome) disse que aquilo não era uma vassoura, era para lavar. Eu dei uma risadona e saí. Ela começou a me recrutar para ajudá-la, mas eu disse que estava ajudando o Tomaz. Eu e o Tomaz limpamos a Salle du Jardin,onde foi a festa do Réveillon. Foi muito agradável, Tomaz é muito tranquilo e eu estou me disciplinando para não reclamar das coisas. Acho que quando você reclama, tudo piora. Comecei a passar meus registros para o blog. Peguei 3 livros na biblioteca: BD- Le petit Spirou, Le chateau de ma mère de Pagnol, e La création du monde, de comédia. Os franceses que acabaram de chegar são bacanas, tem duas que gostei muito: uma baixinha que fala rápido e uma que já foi no Brasil, na Floresta Amazônica e disse “Vocês não conhecem a França de verdade, ainda não foram intoxicados por Paris”. Adorei! De noite, eu, Tomaz e Mayra começamos a ver um filme mas desistimos, estamos todos com sono. Senti falta da Lívia em nosso grupo. Vou dormir!

Primeiro dia do ano











Lista de escritores sul-americanos

Ernesto Sábato
Abel Posse
Alfonsina Storni
Alejandra Pizarnik
Oliverio Girondo
Mario Benedetti
Juan Gelman
Manuel Mujica Lainez
Pablo Neruda
Alejo Carpentier
Carlos Fuentes
Isabel Allende
Gabriel Garcia Marquez

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Réveillon







Domingo 2/01/11
23:16
No dia em que eu e Lívia pintamos o chão da sala Gandhi de vermelho, vestimos roupas de trabalho daqui mesmo: tênis, luva e manteau. Tivemos muito cuidado no trabalho e caprichamos. Na hora da pausa saímos pra tomar um café e sujamos o corredor todo com nossos passos de tinta vermelha. O problema é que não vimos. O V. viu e limpou e depois falou pra todo mundo que a gente sujou tudo de tinta. Foi engraçado, porque alguns franceses com aquele jeito de deboche ficaram pegando no nosso pé. Mas a Lívia respondeu bem a todos: “Nossa arte foi incompreendida!”. O pessoal é super tranquilo aqui e não teve problema. Só tivemos que passar mais solvente depois pra limpar. Quero falar de V., a menina de uns 12 anos que andava sempre com a gente e é gracinha demais!Ela sempre sentava conosco durante as refeições, nos ajudava com o francês e com as tarefas que tínhamos que cumprir. Para o Réveillon, o Arche faz uma apresentação com vários quadros legais das produções artísticas de todos. V. queria muito apresentar uma esquete conosco. Ela começou a planejar, olhou na internet, nos procurava sempre para falar de La pièce de théatre. Eu meio que dei uma fugida dela, porque não queria apresentar. No dia da pintura do chão da sala Gandhi, o P. (um dos brasileiros) estava passando verniz nas portas e nós três conversamos muito. Ele contou que sabe tocar forró no violão e que tem uma francesa no Arche que sabe cantar Morena Tropicana. Eu como monitora de forro podia ensinar mais algumas pessoas a dançar forró e assim apresentaríamos na festa de Réveillon. Perguntamos pra V. se ao invés de fazer a esquete poderíamos apresentar o forró, ela topou. Marcamos então de ensaiar uma noite e ensinar para alguns jovens daqui para poderem dançar com a gente. Falamos com poucas pessoas, mas na hora da dança chegou muita gente. Deve ter ido umas 50 pessoas na sala. O P., que ia tocar, estava atrasado e a Lívia espalhou para os sete cantos do Arche que eu era professora de forró. Respirei fundo e encarei a plateia. Passei os passos básicos, falei para formarem os pares - demorou um século - e eu com meu francês de dois dias na França tentei ensinar alguma coisa. Que horror! Virou uma bagunça, as pessoas não faziam silêncio, eu não conseguia falar francês com espontaneidade... Très compliqué. O P. e a francesa tocaram Morena Tropicana e acabou a aula. Fomos pro Clubinho depois. Lá foi muito gostoso, vimos fotos, escrevemos nossos e-mails no teto... Na sexta-feira, dia da apresentação - já tínhamos dado nossos nomes para o V. nos colocar na apresentação, tive uma ideia para apresentarmos: P. e a francesa tocariam e cantariam, Tomaz e Lívia seriam um casal da dança, e eu e R. (um francês que dança muito bem - eu o convidei mais tarde pra dançar comigo) seríamos outro casal da dança. À noite, Réveillon, lindo!!! Enrolei horrores pra arrumar pra festa, porque tinha trabalhado muito de dia. Quando vi, já estava atrasada. Lívia foi pro meu quarto pra gente arrumar. Sabíamos que primeiro seria uma missa - começava às 20:45. Cinco minutos depois da missa ter começado, não poderíamos mais entrar, teria que ser só depois que a missa acabasse - umas 21:45. Com o meu atraso e a preguiça da Lívia para missas longas, resolvemos chegar atrasadas uma hora. Vesti um vestido, meia e bota pretos com um colar com um pingente de coração prata. Não queria passar o Réveillon de preto, mas não trouxe vestido de outra cor. Acho que o coração prata - brilhante - deve salvar a superstição da relação cor/realizações no ano. Aproveitei pra ligar pra minha mãe e desejar um feliz ano novo. Liguei a cobrar, ela estava com minha avó e meu avô em casa. Pediu pra eu mandar mais notícias e não sumir e falou que estava tudo bem. Muito bom falar com minha mãe! Depois, fomos para a festa. Entramos tentando ser super discretas, mas em um lugar onde todo mundo sempre chega no horário, é difícil não chamar atenção ao chegar uma hora atrasado. Aconteceram várias apresentações: teatro do nascimento de Jesus, vários corais, apresentação de violino, teatro da Revolução Francesa, dança tipo rock realizada por adolescentes, danças folclóricas, e nosso forró... Os apresentadores eram o V. e uma italiana que não sei o nome. Eles faziam esquetes engraçadas (de cegos, médico-paciente, ladrões, dançarinos, etc) para apresentar cada bloco de apresentações. Nosso forró deu super certo. R. me chamou antes pra revisar os passos, ele estava muito nervoso. Eu estava incrivelmente calma, não é comum. A apresentação foi otima, fizemos altos passinhos. Mais tarde foi a contagem (aqui não é regressiva, contamos até o 20 não sei porque, acho que é zoação do V.) pro ano novo. Depois todos se abraçaram. Na hora, todas as pessoas ao meu redor estavam se abraçando, não achei nem um ser vivo disponível para um abraço. Foram uns segundos de depressão que me deixaram pra baixo por muitos minutos. Depois fui a segunda opção de abraço para muitos. Lembrei do meu Réveillon do ano passado que aconteceu algo parecido: bem na hora da virada todos se abraçaram e eu fiquei sem um par pra abraçar, depois todos deram um beijo coletivo e eu não sei onde estava que não participei. Enfim... Começaram os comes (chocolates, nozes, castanhas, biscoitinhos) e bebes (sucos, vinhos, cervejas). E também as danças. Eles fizeram várias danças muito conhecidas no Arche. A professora de dança me tirou várias vezes do meio do grupo de dança, porque eu não sabia os passos que seriam feitos. Ela foi muito chata, só falava: Regardez maintenan! (Assista agora!) Depois as danças ficaram mais socializadas. Teve uma hora que não achei um par pra dançar e a Lívia ficou no meio da roda me gritando pra dançar com o J., que eu não gosto, porque ele é bem debochado com pessoas que não falam bem francês. Acabei tendo que dançar com ele mesmo assim. Quase matei a Livia depois. O R. me chamou várias vezes pra dançar e me ensinou muitas danças doidas daqui. Foi muito bom, ele dança très bien. Vários franceses conversaram comigo durante a festa, muito simpáticos. Eu cheguei para conversar com o N. e ele me respondeu friamente e saiu, achei muito estranho porque ele sempre conversava comigo. Depois me chamou pra dançar todo simpático. Vai entender esses belgas: o humor muda o tempo todo. Fizemos uma brincadeira ótima, era assim: tinham vários casais dançando valsa, um casal ficava de chapéu, quando a música parava, todos deviam trocar de par, quem sobrasse com o homem e a mulher de chapéu, saia. Foi muito engraçado, todo mundo desesperado procurando par!!! Teve uma hora que subi pro meu quarto para guardar uma blusa, de repente Lívia chega toda brava dizendo que dois franceses estavam zoando da cara dela perguntando se no Brasil tem TV, computador, essas coisas... Ela disse que eles foram extremamente grosseiros e ela ficou com muita raiva e saiu. Enquanto ela me explicava no hall do 4º andar, chegaram vários meninos aqui do Arche pedindo desculpas e dizendo que eram des blagues françaises (brincadeirinhas francesas). Pediram desculpas, o N. que estava cabeceando o negócio. Ela aceitou as desculpas e voltamos a dançar. Mais tarde fomos pro clubinho. Conversei muito com C., uma francesinha bonita e super simpática que tem quase o mesmo perfume que eu. Conversei também com P. (que achei que fosse alemão, mas é francês) e com o R.. Fiquei lá até 6:00 da manhã e dormi até 12:30 do dia seguinte. Fui acordada pela Lívia, porque eu não tinha despertador. O almoço do 1º dia do ano foi muito chique! As mesas todas cobertas com um forro branco, talheres postos, velas vermelhas, cardápio especial, sobremesa linda e rebuscada, vinho para aperitivo, durante e após a refeição (fiquei tomando o vinho do aperitivo, que achei o mais gostoso, durante a refeição, veio um francês e disse que a hora do aperitivo já tinha terminado - ele disse brincando, mas foi muito chato). A tarde fomos passear pela redondeza com um grupo jovem, foi muito bom! A noite jogamos cartas (Buraco), eu, Tomaz, Lívia e R.. Bom... Até que enfim escrevo sobre o dia respectivo, mesmo que a meia-noite e meia e eu morrendo de sono... Hoje, domingo, dia 2 de janeiro, acordei cedo porque é meu dia de ajudar na cozinha (do fim de semana). Quando eu fui nos lavabos comunitários, estavam vazios, escovei meus dentes e fui até a cabine do fundo para usar a toalha. No caminho (os lavabos são separados por paredes), passei por J. parado olhando pro vazio, levei um susto e falei “bonjour”, pra me certificar que estava tudo bem. Acho que ele tem algum problema psicológico, porque fica muito tempo olhando pro nada, ou olhando pra alguém, sorri sozinho e tal. Tomei café e cheguei na cozinha às 9:30 pro épluche, que é descascar e picar os legumes. Hoje estava suuuper tranquilo, porque quase todo mundo foi embora. A S. foi na cozinha me procurando para se despedir e me passar seu endereço. Ela mora numa vila no meio de vulcões e já havia me convidado antes para ir lá e agora deixava o e-mail para eu ir visitá-la. Fiquei encantada com sua atitude. Realmente, francês não convida da boca pra fora, ou por educação. Às 10:30 eu e Tomaz fomos à missa na Igreja, mas a missa foi celebrada na capela de inverno por ser menor e fazer menos frio. Hoje a temperatura baixou muito e nevou um pouco. Eu, Tomaz, Lívia e Mayra (a argentina) demos uma volta pela vila para tirarmos fotos. Foi difícil aguentar, porque o frio estava doendo nos ossos e estava ventando muito. Conheci também a igreja/abadia maior. Tirei várias fotos de dentro dela. É super estilo medieval. A arquitetura dela é muito rústica, cheia de pedras, enoooorme, vários vitrais coloridos, bem escura e cheia de monumentos e restos mortais de pessoas importantes do século XIV. Passamos numa lojinha de souvenirs pra olhar e voltamos pro Arche antes que congelássemos no frio abaixo de zero. Maya sugeriu que víssemos um filme, então nos levou até a casa dela para escolhermos. Ela mora no segundo andar, é tipo um apartamento bem pequeno dentro da construção imensa, labiríntica e exótica em que vivo no momento. Sua mãe, S. estava lá. Ela é professora de literatura argentina e ficou muito feliz de conversar comigo sobre literatura. Ela pegou um livro e me falou de várias obras argentinas. Eu também passei o nome de vários escritores brasileiros para ela. Ela falava em espanhol e eu em português, a gente se entendeu super bem. Foi muito legal o encontro. Depois fomos tomar banho, conversamos MUITO, no fim estávamos cansados demais pra ver o filme, deixamos pra amanhã. Cecile me disse que amanhã de manhã preciso trocar de quarto, vou para o primeiro andar, dividirei o novo quarto com uma brasileira que chegara.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Dança e clubinho





Domingo 2/12/10
13:54
Continuando a descrição do Arche: o que eu chamei de trabalhos específicos, as pessoas fazem em pequenos grupos. Eu, por exemplo, já trabalhei de jardineira um dia todo, já pintei o chão de uma sala, já carreguei madeira... As pessoas aqui são muito legais, simpáticas, solidárias, próximas, quentes... Ao contrário do que dizem, os franceses não são frios, pelo menos os do Arche. São tão quentes de receptividade, que são capazes de derreter a neve lá fora. No primeiro dia que estava aqui, falei com Cecile (ela trabalha aqui) que gostaria de participar do curso de dança que está tendo. Ela me levou no encontro do pessoal da dança, mas eles estavam na pausa tomando café. N., um belga loiro e todo alternativo, começou a conversar comigo. Conversamos muito e ele me levou para assistir a aula de dança. Foi muito legal, no fim eu dancei também. São danças folclóricas da Europa e de outros países. A maioria é em roda e com passos todos marcados, todo mundo faz o mesmo. Me lembrou muito quadrilha, é muito gostoso de dançar! Depois fomos na prière da noite. Dura uns 15 minutos, a gente canta umas músicas, alguém lê uma passagem da Bíblia e rezamos juntos. Nessa prière da noite, as pessoas novas se apresentam, foi aí que conheci Lívia, outra brasileira que veio passar uma semana no Arche. Ela é um amor de pessoa, nos tornamos amigas bem rápido. Ela fala francês muito bem, já está na França há 3 meses, fazendo doutorado sanduíche em Rennes. Ela fala muito - em português e em francês - e isso nos permitiu fazer amizade com muitas pessoas. Há alguns jovens que moram aqui e são bem legais. Há também uma família de argentinos que é encantadora. O chefe que fica nos dizendo o trabalho que vamos fazer cada dia é V.: um espanhol engraçadíssimo que chama a Lívia e a mim de “filllllles”. Há muitas outras pessoas que eu gosto muito: O. (trabalha na cozinha), A. (eu acho que também é estrangeira), S. (que passou essa semana aqui e hoje voltou pra sua cidade, e me convidou pra visitá-la, ela mora numa cidade rodeada de vulcões), C., J. e M... Há um outro brasileiro aqui também: P., sua mulher e seu filho são franceses. Seu filho, A., tem 2 anos e não fica quieto. Conheci duas crianças também que ficaram muito minhas amigas: V. e M.. Elas não gostavam muito uma da outra e quando uma estava comigo e com Lívia, a outra ficava longe. V. é um amor de criança, bem grande para sua idade, me ajudou em tudo, principalmente com o francês. Ela não era muito amiga das outras crianças e uma vez foi comigo na vila aqui perto comprar umas cosas que eu precisava. M. é negra e super carinhosa, custo a entender o que ela fala, mas ela me ajuda muito e também já foi na vila comigo. Muita gente foi embora ontem e hoje, porque vieram só para o curso de dança ou para o feriado de fim de ano. Chegou outro brasileiro na quinta-feira: Tomaz. Tem 20 anos, é simpaticíssimo e tranquilão. Há um lugar muito doido que os jovens encontram: o Clubinho. É um lugar no primeiro andar super escondido, com as paredes todas pintadas, escritas, desenhadas. Há um monte de sofás, cervejas. O pessoal conversa, toca violão, trompete, joga totó... É muito cool! C’est niquel!

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

La communauté "Arche de Saint Antoine"


Sábado 1/12/10
15:39
Eu cheguei na comunidade meio-dia de terça-feira. Tenho quatro dias inteiros na comunidade, então falarei dela no geral, porque não lembro de tudo. Posso definir o Arche de Saint Antoine como ENCANTADOR! Esse lugar é uma delícia! No dia que eu cheguei, o Thomas, que me buscou na estação, me colocou pra almoçar no meio de uma mesa cheia de gente. E as pessoas puxaram papo comigo, mas não falei muito, afinal de contas meu francês esta otimo quando eu digo Bonjour! ça va? Depois voltei pro meu quarto e dormi a tarde toda. As refeições no Arche são vegetarianas e muito gostosas! Às vezes tem arroz com feijão, mas o de sempre é uma mesa farta de saladas diferentes, molhos, milhões de tipos de queijo. Além disso, tem os pratos principais (pode ser legumes, sopas, lasanha, cuzcuz...) e a sobremesa (frutas, como maçã, kiwi, saladas de frutas-pêra, cereja, pêssego). É servido água durante as refeições - a gente bebe água da torneira aqui. Sentamos em mesonas tipo as do restaurante universitário da UFMG e quando entramos na salle à manger, devemos pegar o prato, os talheres, copo, a cumbuca pras sopas ou chás e sentamos em uma das mesas, servimos à vontade no meio da sala, podemos repetir o quanto quisermos. A chef da cozinha diz quais são os pratos da noite antes da refeição; durante, há um espaço para as notícias; e quando acabamos de almoçar, cada um pega suas vasilhas da refeição e lava, seca e as volta pro lugar. O processo de lavar vasilhas é diferente também: há três pias seguidas, na 1ª você faz uma pré-lavagem, tira o sujo grosso, na 2a você passa na água com sabão e esfrega, e por último, você enxágua. O Arche é enorme e parece um labirinto, milhões de salas e passagens bizarras. Estou, por enquanto, hospedada no 4º andar, o quarto se chama Bélier, tem duas camas mas estou sozinha. Descobri depois que esse quarto está na hotêllerie, que são os quartos para as pessoas que pagam. Ele é simples, mas aconchegante. Os quartos dos estagiários ficam do outro lado do corredor, longe dos banheiros, são mais simples ainda e passam por um corredor um pouco mais frio. Os banheiros são interessantes, pra não dizer bizarres! No meu quarto tem uma pia com água gelada, que até dói as mãos. Perto tem os toilletes, que são quartinhos minúsculos com um vaso (eles não lavam a mão depois!) e há um cômodo que se chama Duches et lavabes, de um lado tem umas pias com água quente, do outro há os chuveiros, eles são móveis, tipo uma duchinha, mas tem um apoio para você encaixá-lo de forma que fiquem como os chuveiros do Brasil. É uma delícia o banho, quentinho. Da primeira vez fiquei meia hora no banho. E, por enquanto, tomei banho todos os dias. Minha rotina é assim: acordo às 7:30, tomo café entre 8:00 e 8:20, depois vou pros épluches, que é uma hora que todos vão para a cozinha e descascam e cortam os alimentos que serão servidos nas refeições. De 9:40 às 10:00 tem a chapelle, que é tipo uma missa que a gente pode participar se quiser, eu gosto porque é bem curta e tem vários cantos. De 10:00 às 12:00 fazemos um trabalho específico. 12:30 é o almoço. De 14:15 às 18:00 fazemos outro trabalho específico, com direito a uma pausa pra tomar um cafezinho (só café ou chá mesmo). 18:30 tem uma prière (reza) que podemos participar. 19:00 é a janta. Em todos os horários não especificados aqui, podemos fazer o que quisermos. Aqui há uma biblioteca enorme, onde fica o computador que podemos usar a vontade e tem internet.

De Lyon à St Anoine


Sexta-feira 31/12/10
13:55
Na terça-feira, dia 28/12, o anjo me acordou, levou minhas malas pra baixo (nem dei gorjeta) rs. Agradeci muito e entrei no taxi que ele tinha chamado para mim. O taxista era gatíssimo! Fui à estação de Lyon: Part Dieu, e comprei passagem para St Marcellin. Mas eu faria uma escala em Grenoble. Entrei no metrô. Eles anunciam a plataforma que você vai pegar o trem só uns 10 minutos antes de partir, aí você sai correndo com aquelas malas pesadas, desce escada, sobe escada e entra no primeiro trem que você vê. Um menino que estava no mesmo trem que eu me ofereceu ajuda com as malas: quem disse que francês não ajuda? - Fiquei pasma com a paisagem das vilas cobertas de neve que iam passando. É magnífico! As casas todas vestidas de branco, as montanhas lindíssimas e branquíssimas. Cheguei a estação de Grenoble e eu teria 5 minutos para trocar de trem. Olhei no quadro de horários que estava na estação e não estava escrito St Marcellin, fiquei rodando perdida com as malas pesadas. Malas pesadas me deixam extremamente irritada! Como perdi o trem, fui até o guichê de informação e perguntei aonde estava o trem para St Marcellin, que não foi anunciado. O guarda me disse que foi anunciado o de Valence, St Marcellin seria uma das paradas dele. Fiquei muito brava e perguntei como é que eu ia saber disso. Ele falou que os trem aqui são complicados mesmo. Cheguei super brava e ele foi uma simpatia só! Trocou minha passagem para eu pegar o próximo para Valence. No trem de Valence, sentei ao lado de uma mulher e começamos a conversar. Ela se chama R. e é árabe. Disse que eu falava muito bem francês e conversamos muito. Eu entendia quase tudo que ela falava. Falamos do Brasil e depois ela começou a me falar que não gostava de cirurgia plástica, não entendi de onde ela tirou esse assunto, mas eu disse que eu também não gostava. Depois descobri que o Brasil, além do futebol e carnaval, é também conhecido por ter os melhores cirurgiões plásticos do mundo. Ela me deu uma barrinha de cereal (ainda bem, porque eu ja estava roxa de fome!), disse que os franceses são muito chatos e me convidou pra ir na casa dela. Ela é bibliotecária, mas não sabia escrever Grenoble. Tive que soletrar pra ela quando estava escrevendo suas informaçoes. Desci na estação de St Marcellin às 11:15, tirei umas fotos e esperei... Thomas, do Arche de St Antoine, veio me buscar às 12:00. Ele me deu dois beijinhos no rosto e fomos conversando muito no carro. Foi super legal, niquel! Chegando na comunidade...

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

BH-RJ-Lisboa-Lyon

Domingo 26/12/10
14:21
Eu começo minha grande viagem no aeroporto de Confins-BH. Minha tia me trouxe em seu carro e tive a companhia outros familiares. Cheguei com bastante antecedência para nãoter problemas com imprevistos. Choveu um pouco e vimos como a Avenida Cristiano Machado está alagando fácil com essas chuvas de verão. No momento estou esperando na sala de embarque, porque o vôo atrasará 50 minutos. Já que vou ficar esperando 4 horas no aeroporto do Galeão-RJ meu vôo para Lisboa, nem importo de esperar aqui. Na despedida nao senti nada demais, tudo tão tranquilo... achei que fosse chorar ou coisa assim, mas nada. Minha mãe também não chorou. Vou com um sentimento de que faço a coisa certa. Meu avô e minha avó também despediram super bem de mim, com palavras bonitas e um abraço apertado. Vou embarcar agora!

17:08
Já estou no aeroporto do Galeão, ele é enorme! O voo da TAM passou por turbulências, mas deu tudo certo. A mulher que viajou ao meu lado rezava muito na decolagem, ela fechou os olhos e não olhou a janela. Pareceu ter muito medo de avião. Ela não aproveitou a maravilhosa vista das nuvens sobre as montanhas de Minas. Umas das imagens mais bonitas que já vi de dentro do avião. O lanchinho da TAM é muito bom também! E os comissários nem recolheram o lixo devido à turbulência. No momento, estou esperando na sala de embarque. Quando ando pelo aeroporto tenho a impressão que todos sabem para onde estou indo e pensam: que menina corajosa! Muito aventureira! Vou viajar pra Europa!!!!!!!!!!! Uhuuuuu!!!!

Quinta-feira 30/12/10
00:05
Nossa! Tenho tanta coisa pra contar... Parece que passou um ano em dois dias. Como estou muito elétrica pra dormir, vou ir escrevendo... O avião RJ-Lisboa saiu no horário certo. Eu estava na cadeira 12J, mas quando cheguei no meu lugar a menina que sentaria ao meu lado perguntou se eu podia trocar com a senhora à frente, porque elas tinham conversado e gostaram muito uma da outra, logo, queriam ficar juntas. Disse que trocava, afinal, não quero ninguém de cara ruim pra mim durante nove horas de viagem. Depois de uns minutos, chegou um jovem e sentou ao lado da senhora da frente. Troquei com ela e a viagem foi tranqüila. A comida da TAP é gostosa, a TV é ruim, o banheiro a minha frente está sempre disponível, mas eu não podia usar porque era só pra primeira classe e o meu, de trás, estava sempre cheio. Mas a vantagem era que a gente tinha que esperar um tempão pra esvaziar, então a gente esticava bem as pernas. Não tinha dormido nada até então e meu companheiro de cadeira também não. Começamos a conversar, ele se chama R, trabalha no ministério público e passará o Réveillon com mais dois amigos na Espanha-Barcelona. Conversamos muito, ele é uma simpatia de pessoa. Quando cheguei em Lisboa, passei pela fila gigantesca da migração. O agente da polícia federal que me atendeu era super empolgado. Viu meu visto anulado e riu pra caramba, até mostrou pro colega dele ao lado. (O primeiro visto que tentei estava com a data de 26/12/2011 e não 26/12/2010. Descobri isso na quinta antes da minha viagem - dia 23/12 - e fiquei estressada. O cônsul da França em Belo Horizonte me disse que ia mandar de volta pro RJ pra eles arrumarem e me enviava de volta no sábado - Natal, 25/12 - por Sedex. Na sexta, às 11:00 da manhã, me ligaram do consulado do RJ dizendo que meu visto estava pronto, mas o correio não funcionaria no feriado de Natal. Fiquei louca. Pedi pra Thatá que mora no RJ buscar no consulado e levar pra mim no aeroporto porque eu estava indo naquela hora pro RJ. Ela e o marido foram um amor e salvaram minha viagem. Fui e voltei do RJ entre 13:00 e 19:00, contando da minha casa. Foi ótimo porque cheguei para a ceia de Natal a tempo. Mas foi ruim porque gastei mais de R$600,00). Passei a manhã no aeroporto de Lisboa. Passou rápido porque fiquei procurando coisas pra fazer. Enviei um cartão postal do aeroporto para minha mae, dei uma voltinha lá fora: congelante (!!!), meu primeiro choque com o frio da Europa. Quando fui ao banheiro, a faxineira tinha limpado uma parte e fui utilizar a parte limpa, ela começou a gritar comigo e perguntar se eu não podia esperar secar, se eu não estava vendo que ela tinha acabado de limpar. Pedi desculpa e saí. No Brasil a gente pode usar o banheiro recém limpado! Comprei um jornal francês, dormi nos bancos do aeroporto e às 14:05 embarquei para Lyon. Cheguei às 18:00 mais ou menos, já estava escuro e cheio de neve. A paisagem é linda!!! Pra usar o carrinho do aeroporto temos que colocar 1 euro e o dinheiro é devolvido quando devolvemos o carrinho. Não tinha 1 euro trocado, então não pude usar o carrinho. Alors, eu, com duas malas e uma bolsa pesada fui em busca de um ônibus pra ir ao centro de Lyon, porque sabia que o aeroporto era bem longe. Devido ao mal tempo seria necessário ir até certa parte de ônibus e o resto de metrô. Que dificuldade pra comprar passagem nas máquinas! Não havia ninguém pra ajudar, estava completamente perdida e cansada... e na frente da máquina de bilhetes. De repente, um anjo me perguntou se eu precisava de ajuda. Não sei de onde ela surgiu, mas parecia que trabalhava no aeroporto. Me explicou com uma super paciência e eu falei um super merci beaucoup. Lá fui eu arrastando duas malas pesadas na neve. Que horror! Eu nunca tinha andado na neve, e agora posso dizer: é muito desconfortável se você está empurrando malas. Quase escorreguei numa parte, mas cheguei viva dentro do ônibus. Só tinham franceses no ônibus, acho que os turistas usam taxi, não tem turista pobre na França? Eu não devo ter cara de turista porque muitos franceses, muitos mesmo, me pediram informação, e na maioria das vezes eu soube dar! Chegando na estação, todo mundo estava perdido, tanto os franceses quanto eu. Todos entramos no trem errado, saímos, pegamos o certo e descemos na Estação de Lyon. Peguei um taxi até meu hostel: Hotel de Bretagne. O taxista falava muito, me mostrou um pouco da cidade, mas tenho certeza que ele não deu volta, porque peguei um taxi pra essa estação na manhã seguinte e deu o mesmo preço. A gente conversou muito e ele disse que eu falo muito bem francês. Nessas conversas básicas é verdade, mas é só. Ele me disse que o Hotel de Bretagne tinha fechado, quase morri do coração. Depois ele me disse que era brincadeira, não achei graça nenhuma. E quem disse que os franceses não conversam com as pessoas e são frios? Cheguei no hotel e fui recebida por outro anjo! Sério. O homem que trabalha lá é abençoado, divino! Ele me explicou tudo, paguei antes porque já eram umas 20:00 e eu sairia na manhã seguinte às 7:00. Subi pro meu quarto. A escada é em forma de caracol e foi terrível subi-las com aquelas malas. Estava louca para carregar meu celular e meu netbook, porque os dois estavam sem bateria e eu não tinha relógio, queria falar com minha mãe e também mandar um e-mail para a comunidade, Arche de Saint Antoine, confirmando que eu iria no dia seguinte e que era para eles me buscarem na estação de St Marcellin. O que acontece é que as tomadas da França tem um formato diferente das do Brasil, então elas não encaixavam. Para o netbook, eu tinha um adaptador, mas na hora que fui pegá-lo ele quebrou. Resultado: fui umas 10 vezes na portaria pedir adaptador, trocar adaptador, trocar adaptador, trocar adaptador, ver se o moço tinha outra solução... Nessa hora descobri que o moço (perguntei o nome, mas não lembro, é muito diferente) era um anjo. Achei que ele fosse estressar comigo e me expulsar do hotel, mas devido ao meu desespero, eu insistia. Ao contrário, ele foi um doce e me sugeria alternativas, tentava me ajudar... Se não fosse a paciência, a educação e a atenção dele eu teria pirado. Já que não tinha outro jeito e eu estava roxa de fome, saí pra comer alguma coisa. Queria um fast-food, assim poderia comer rápido e voltar pro hotel e dormir, porque havia dois dias que eu não dormia. Mas não achei nenhum fast-food, só restaurantes bonitos e aconchegantes cheios de gente. Lyon é uma cidade maravilhosa com muitos turistas e fiquei num lugar ótimo, perto de uma rua movimentada. Todos os restaurantes tinham um cardápio na rua pra gente escolher. Entrei em um, perguntei ao garçon se ele tinha uma maison (casa), ele riu e falou que tinha. Aí eu caí na real e arrumei: table (mesa). Fiquei muito nervosa com a história das tomadas e quando fico nervosa nao falo nada de francês. Sentei, todas as mesas estavam cheias, só uma tinha apenas um homem. Pedi um potage (tipo uma sopa). Como a mulher ficou me esperando pra ver o que mais eu ia pedir, pedi um suco de maça também. Ela ainda ficou espantada: “só isso?”. Isso enche pra caramba, ainda mais que era uma sopa de toucinho, nozes e lentilha. Super forte. Paguei e fui embora. Andei até uma praça que estava super iluminada pra tirar uma foto, mas o frio me pegou de uma forma que achei que ia desmaiar antes de conseguir chegar no hotel. Sério, eu estava quase correndo, porque o frio estava paralisando minhas pernas e fiquei com medo de não conseguir chegar a tempo. Graças a Deus cheguei, tomei um banho e deitei pra dormir. Mas quem disse que conseguia ficar de olho fechado? Não parava de pensar que no dia seguinte eu ia pra Saint Marcellin e não sabia com certeza se a comunidade ia me buscar na estação, eu contava sempre com a internet (e no hotel tinha, o problema era a minha tomada) e não tinha anotado nem o telefone nem o endereço da comunidade que eu ia. Também queria falar com minha família no skype. Além do mais, estava sem relógio e estava confiando no anjo da portaria que me acordaria no dia seguinte às 6:30. O anjo disse que estaria na portaria até as 23:00. Mas fui dormir às 23:30, rolei na cama durante muito tempo, liguei a TV, passei por todos os canais, desliguei, rezei sem parar, tentei dormir. Mas eu fechava o olho e vinha uma imagem minha sozinha num quarto vazio e sem nada perto, como se fosse um deserto e eu estava no meio dele, distante de tudo. Não ia dar pra dormir desse jeito. Troquei a roupa, desci as escadas e fui até a portaria, fechada. Estava muito tarde. Voltando para o meu quarto, encontrei o anjo descendo as escadas, saindo de um banheiro. Perguntei se ele poderia me devolver meu adaptador que quebrou e tinha pedido pra ele jogar no lixo e ele me devolveu com a maior boa vontade do mundo e até com um sorriso. Novamente pedi milhões de desculpas e disse milhões de obrigadas - os franceses usam muito essas palavras. Voltei pro meu quarto, consertei o adaptador, liguei o skype, falei com minha mãe e minha irmã, peguei o endereço e o telefone da comunidade e mandei uma mensagem dizendo que esperaria às 12:00 na estação. Desliguei o computador já era 2:30 da madrugada e dormi de uma vez.

Journal de voyage/Diario de viagem

Ola! Narro aqui minha viagem pela Europa. Estudarei Letras na Université de Versailles Saint-Quentin-en-Yvelines no primeiro semestre de 2011 (na França, segundo semestre de 2010/2011). Vim umas semanas antes para conhecer o Arche de Saint Antoine. Uma comunidade linda que me faz crescer a cada dia. Peço desculpas pelos erros de português, às vezes utilizo um teclado francês que dificulta muito a minha digitaçao. A correria e a necessidade de rapidez para esse trabalho também atrapalham. Procuro manter a privacidade das pessoas, mas se alguém for citado aqui e nao se sentir a vontade, me mande uma mensagem que eu retiro. Profitez-en!