segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

BH-RJ-Lisboa-Lyon

Domingo 26/12/10
14:21
Eu começo minha grande viagem no aeroporto de Confins-BH. Minha tia me trouxe em seu carro e tive a companhia outros familiares. Cheguei com bastante antecedência para nãoter problemas com imprevistos. Choveu um pouco e vimos como a Avenida Cristiano Machado está alagando fácil com essas chuvas de verão. No momento estou esperando na sala de embarque, porque o vôo atrasará 50 minutos. Já que vou ficar esperando 4 horas no aeroporto do Galeão-RJ meu vôo para Lisboa, nem importo de esperar aqui. Na despedida nao senti nada demais, tudo tão tranquilo... achei que fosse chorar ou coisa assim, mas nada. Minha mãe também não chorou. Vou com um sentimento de que faço a coisa certa. Meu avô e minha avó também despediram super bem de mim, com palavras bonitas e um abraço apertado. Vou embarcar agora!

17:08
Já estou no aeroporto do Galeão, ele é enorme! O voo da TAM passou por turbulências, mas deu tudo certo. A mulher que viajou ao meu lado rezava muito na decolagem, ela fechou os olhos e não olhou a janela. Pareceu ter muito medo de avião. Ela não aproveitou a maravilhosa vista das nuvens sobre as montanhas de Minas. Umas das imagens mais bonitas que já vi de dentro do avião. O lanchinho da TAM é muito bom também! E os comissários nem recolheram o lixo devido à turbulência. No momento, estou esperando na sala de embarque. Quando ando pelo aeroporto tenho a impressão que todos sabem para onde estou indo e pensam: que menina corajosa! Muito aventureira! Vou viajar pra Europa!!!!!!!!!!! Uhuuuuu!!!!

Quinta-feira 30/12/10
00:05
Nossa! Tenho tanta coisa pra contar... Parece que passou um ano em dois dias. Como estou muito elétrica pra dormir, vou ir escrevendo... O avião RJ-Lisboa saiu no horário certo. Eu estava na cadeira 12J, mas quando cheguei no meu lugar a menina que sentaria ao meu lado perguntou se eu podia trocar com a senhora à frente, porque elas tinham conversado e gostaram muito uma da outra, logo, queriam ficar juntas. Disse que trocava, afinal, não quero ninguém de cara ruim pra mim durante nove horas de viagem. Depois de uns minutos, chegou um jovem e sentou ao lado da senhora da frente. Troquei com ela e a viagem foi tranqüila. A comida da TAP é gostosa, a TV é ruim, o banheiro a minha frente está sempre disponível, mas eu não podia usar porque era só pra primeira classe e o meu, de trás, estava sempre cheio. Mas a vantagem era que a gente tinha que esperar um tempão pra esvaziar, então a gente esticava bem as pernas. Não tinha dormido nada até então e meu companheiro de cadeira também não. Começamos a conversar, ele se chama R, trabalha no ministério público e passará o Réveillon com mais dois amigos na Espanha-Barcelona. Conversamos muito, ele é uma simpatia de pessoa. Quando cheguei em Lisboa, passei pela fila gigantesca da migração. O agente da polícia federal que me atendeu era super empolgado. Viu meu visto anulado e riu pra caramba, até mostrou pro colega dele ao lado. (O primeiro visto que tentei estava com a data de 26/12/2011 e não 26/12/2010. Descobri isso na quinta antes da minha viagem - dia 23/12 - e fiquei estressada. O cônsul da França em Belo Horizonte me disse que ia mandar de volta pro RJ pra eles arrumarem e me enviava de volta no sábado - Natal, 25/12 - por Sedex. Na sexta, às 11:00 da manhã, me ligaram do consulado do RJ dizendo que meu visto estava pronto, mas o correio não funcionaria no feriado de Natal. Fiquei louca. Pedi pra Thatá que mora no RJ buscar no consulado e levar pra mim no aeroporto porque eu estava indo naquela hora pro RJ. Ela e o marido foram um amor e salvaram minha viagem. Fui e voltei do RJ entre 13:00 e 19:00, contando da minha casa. Foi ótimo porque cheguei para a ceia de Natal a tempo. Mas foi ruim porque gastei mais de R$600,00). Passei a manhã no aeroporto de Lisboa. Passou rápido porque fiquei procurando coisas pra fazer. Enviei um cartão postal do aeroporto para minha mae, dei uma voltinha lá fora: congelante (!!!), meu primeiro choque com o frio da Europa. Quando fui ao banheiro, a faxineira tinha limpado uma parte e fui utilizar a parte limpa, ela começou a gritar comigo e perguntar se eu não podia esperar secar, se eu não estava vendo que ela tinha acabado de limpar. Pedi desculpa e saí. No Brasil a gente pode usar o banheiro recém limpado! Comprei um jornal francês, dormi nos bancos do aeroporto e às 14:05 embarquei para Lyon. Cheguei às 18:00 mais ou menos, já estava escuro e cheio de neve. A paisagem é linda!!! Pra usar o carrinho do aeroporto temos que colocar 1 euro e o dinheiro é devolvido quando devolvemos o carrinho. Não tinha 1 euro trocado, então não pude usar o carrinho. Alors, eu, com duas malas e uma bolsa pesada fui em busca de um ônibus pra ir ao centro de Lyon, porque sabia que o aeroporto era bem longe. Devido ao mal tempo seria necessário ir até certa parte de ônibus e o resto de metrô. Que dificuldade pra comprar passagem nas máquinas! Não havia ninguém pra ajudar, estava completamente perdida e cansada... e na frente da máquina de bilhetes. De repente, um anjo me perguntou se eu precisava de ajuda. Não sei de onde ela surgiu, mas parecia que trabalhava no aeroporto. Me explicou com uma super paciência e eu falei um super merci beaucoup. Lá fui eu arrastando duas malas pesadas na neve. Que horror! Eu nunca tinha andado na neve, e agora posso dizer: é muito desconfortável se você está empurrando malas. Quase escorreguei numa parte, mas cheguei viva dentro do ônibus. Só tinham franceses no ônibus, acho que os turistas usam taxi, não tem turista pobre na França? Eu não devo ter cara de turista porque muitos franceses, muitos mesmo, me pediram informação, e na maioria das vezes eu soube dar! Chegando na estação, todo mundo estava perdido, tanto os franceses quanto eu. Todos entramos no trem errado, saímos, pegamos o certo e descemos na Estação de Lyon. Peguei um taxi até meu hostel: Hotel de Bretagne. O taxista falava muito, me mostrou um pouco da cidade, mas tenho certeza que ele não deu volta, porque peguei um taxi pra essa estação na manhã seguinte e deu o mesmo preço. A gente conversou muito e ele disse que eu falo muito bem francês. Nessas conversas básicas é verdade, mas é só. Ele me disse que o Hotel de Bretagne tinha fechado, quase morri do coração. Depois ele me disse que era brincadeira, não achei graça nenhuma. E quem disse que os franceses não conversam com as pessoas e são frios? Cheguei no hotel e fui recebida por outro anjo! Sério. O homem que trabalha lá é abençoado, divino! Ele me explicou tudo, paguei antes porque já eram umas 20:00 e eu sairia na manhã seguinte às 7:00. Subi pro meu quarto. A escada é em forma de caracol e foi terrível subi-las com aquelas malas. Estava louca para carregar meu celular e meu netbook, porque os dois estavam sem bateria e eu não tinha relógio, queria falar com minha mãe e também mandar um e-mail para a comunidade, Arche de Saint Antoine, confirmando que eu iria no dia seguinte e que era para eles me buscarem na estação de St Marcellin. O que acontece é que as tomadas da França tem um formato diferente das do Brasil, então elas não encaixavam. Para o netbook, eu tinha um adaptador, mas na hora que fui pegá-lo ele quebrou. Resultado: fui umas 10 vezes na portaria pedir adaptador, trocar adaptador, trocar adaptador, trocar adaptador, ver se o moço tinha outra solução... Nessa hora descobri que o moço (perguntei o nome, mas não lembro, é muito diferente) era um anjo. Achei que ele fosse estressar comigo e me expulsar do hotel, mas devido ao meu desespero, eu insistia. Ao contrário, ele foi um doce e me sugeria alternativas, tentava me ajudar... Se não fosse a paciência, a educação e a atenção dele eu teria pirado. Já que não tinha outro jeito e eu estava roxa de fome, saí pra comer alguma coisa. Queria um fast-food, assim poderia comer rápido e voltar pro hotel e dormir, porque havia dois dias que eu não dormia. Mas não achei nenhum fast-food, só restaurantes bonitos e aconchegantes cheios de gente. Lyon é uma cidade maravilhosa com muitos turistas e fiquei num lugar ótimo, perto de uma rua movimentada. Todos os restaurantes tinham um cardápio na rua pra gente escolher. Entrei em um, perguntei ao garçon se ele tinha uma maison (casa), ele riu e falou que tinha. Aí eu caí na real e arrumei: table (mesa). Fiquei muito nervosa com a história das tomadas e quando fico nervosa nao falo nada de francês. Sentei, todas as mesas estavam cheias, só uma tinha apenas um homem. Pedi um potage (tipo uma sopa). Como a mulher ficou me esperando pra ver o que mais eu ia pedir, pedi um suco de maça também. Ela ainda ficou espantada: “só isso?”. Isso enche pra caramba, ainda mais que era uma sopa de toucinho, nozes e lentilha. Super forte. Paguei e fui embora. Andei até uma praça que estava super iluminada pra tirar uma foto, mas o frio me pegou de uma forma que achei que ia desmaiar antes de conseguir chegar no hotel. Sério, eu estava quase correndo, porque o frio estava paralisando minhas pernas e fiquei com medo de não conseguir chegar a tempo. Graças a Deus cheguei, tomei um banho e deitei pra dormir. Mas quem disse que conseguia ficar de olho fechado? Não parava de pensar que no dia seguinte eu ia pra Saint Marcellin e não sabia com certeza se a comunidade ia me buscar na estação, eu contava sempre com a internet (e no hotel tinha, o problema era a minha tomada) e não tinha anotado nem o telefone nem o endereço da comunidade que eu ia. Também queria falar com minha família no skype. Além do mais, estava sem relógio e estava confiando no anjo da portaria que me acordaria no dia seguinte às 6:30. O anjo disse que estaria na portaria até as 23:00. Mas fui dormir às 23:30, rolei na cama durante muito tempo, liguei a TV, passei por todos os canais, desliguei, rezei sem parar, tentei dormir. Mas eu fechava o olho e vinha uma imagem minha sozinha num quarto vazio e sem nada perto, como se fosse um deserto e eu estava no meio dele, distante de tudo. Não ia dar pra dormir desse jeito. Troquei a roupa, desci as escadas e fui até a portaria, fechada. Estava muito tarde. Voltando para o meu quarto, encontrei o anjo descendo as escadas, saindo de um banheiro. Perguntei se ele poderia me devolver meu adaptador que quebrou e tinha pedido pra ele jogar no lixo e ele me devolveu com a maior boa vontade do mundo e até com um sorriso. Novamente pedi milhões de desculpas e disse milhões de obrigadas - os franceses usam muito essas palavras. Voltei pro meu quarto, consertei o adaptador, liguei o skype, falei com minha mãe e minha irmã, peguei o endereço e o telefone da comunidade e mandei uma mensagem dizendo que esperaria às 12:00 na estação. Desliguei o computador já era 2:30 da madrugada e dormi de uma vez.

4 comentários:

  1. Ignês!!! Que aventura! Que delícia! Estou amando ler tudo com tanta riqueza de detalhes, porque assim parece que estou mais perto de você. Aproveite tudo que tiver direito! Estou aqui torcendo para que você tenha dias maravilhosos aí, para que aprenda muitíssimo o francês, e para que só conheça pessoas boas. Vou entar no seu blog todos os dias para saber as novidades, rsrsrs. Já dei boas risadas com algumas coisas que você escreveu, e outras me deixaram muito empolgada, com vontade de ler mais e mais. Acho que depois você deve reunir tudo num belo livro, rs. Abraço muito apertado! E tudo de bom!!!

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  2. "É melhor atirar-se à luta em busca de dias melhores, mesmo correndo o risco de perder tudo, do que permanecer estático, como os pobres de espírito, que não lutam, mas também não vencem, que não conhecem a dor da derrota, nem a glória de ressurgir dos escombros. Esses pobres de espírito, ao final de sua jornada na Terra não agradecem a Deus por terem vivido, mas desculpam-se perante Ele, por terem apenas passado pela vida." Bob Marley
    Tenho certeza que vc agradecerá a Deus por tudo!!!! Bjus enormes e Sorte ai...
    Fabíola Alves

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  3. Iggy!!!

    Q saudade!!! Estou amando ler o seu blog. Estarei sempre aqui se precisar de ajuda. Andar na neve com malas não é nada fácil mesmo. Na minha viagem levei um escorregão e o meu joelho está me lembrando disso até hoje.
    Vou acabar de ler os seus outros posts.

    Td de melhor p/ vc !!!!

    Bjos

    Thatá

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  4. Nagila, meu sonho é publicar um livro! Quem sabe um dia... Espero vê-la aqui na França em breve!
    Fabi, obrigada pelas palavras! Adorei! Concordo plenamente.
    Thata, tenho que te agradecer mais uma vez, se nao fosse por vc e Alexei, minha viagem nao seria tao gostosa!

    Bjao pra vcs!!!!

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